Memorização e raciocínio no método Montessori

Tempo de leitura: 6 minutos

Se você acompanha nossas postagens aqui no blog, já deve ter percebido que há uma distinção entre o método tradicional de ensino e o método Montessori.

E não se trata apenas da composição das salas de aula, mas dos materiais multissensoriais, da postura dos educadores, e da forma como a capacidade cognitiva infantil é estimulada e desenvolvida.

É por isso que hoje decidimos refletir sobre um aspecto essencial ao desenvolvimento humano, a fim de mostrar como ele é abordado na escola Montessori: a memorização.

Para isso, mais uma vez, traçaremos um paralelo com a metodologia convencional.

Tenha uma boa leitura!

A ênfase do ensino tradicional

Como já mencionamos algumas vezes, a metodologia tradicional de ensino, que tem suas origens na França iluminista do século 19, é essencialmente calcada na memorização. Na sala de aula, os alunos absorvem o conhecimento teórico, trabalhado de forma visual e auditiva, para depois reproduzi-lo.

Fórmulas, datas, nomenclaturas; a maioria das informações é de ordem abstrata e pouco relacionada à realidade imediata dos estudantes. No entanto, as avaliações reforçam essa dinâmica, já que cobram justamente esse conhecimento abstrato.

Do aluno, espera-se que aprenda suficientemente bem para repetir sem erros e passar de ano. Como esse é o destino mais longínquo a que ele pode chegar, ele jamais vai surpreender seus educadores ou ousar a criar respostas diferentes. Na verdade, não há expectativa de que ele crie algo inusitado e revolucionário com suas próprias ideias e recursos.

Assim, a escola tradicional padroniza pensamento e comportamento, e o real aprendizado que ela proporciona é uma grande decoreba.

A capacidade de memorizar

Muito do que é “memorizado” no Ensino Fundamental e Médio é esquecido tão logo o adolescente passe no vestibular. Por quê será?

Bem, porque o conteúdo não foi realmente aprendido. O aluno não entendeu o porquê daquelas nomenclaturas, princípios e fórmulas, apenas gravou momentaneamente um roteiro pré-concebido.

Nesse período, ao invés de decorar, ele poderia estar realmente aprendendo, inovando, descobrindo e alimentando seu potencial criativo. Somente quando acionamos essas capacidades é que podemos, de fato, memorizar algo.

Grave bem: a capacidade de memorizar emana do aprendizado.

A memorização no método Montessori

No método Montessori, por outro lado, não há ênfase na memorização de conceitos abstratos, e sim no aprendizado orgânico, construído a partir dos recursos e interesses individuais.

A memorização é entendida e abordada como uma habilidade a ser desenvolvida em paralelo a diversas outras, tornada possível por meio de variados estímulos.

Esses estímulos vêm de materiais multissensoriais, os quais são projetados para que cada criança exercite todos os aspectos cognitivos. Por meio da visão, paladar, olfato, audição e principalmente do tato, o cérebro infantil descobre o mundo de forma personalizada e vai compreendendo sua natureza.

A capacidade mnemônica, portanto, é desenvolvida de forma natural, junto com o raciocínio lógico, a percepção espacial, as habilidades sociais e linguísticas.

Não há decoreba, e sim uma real memorização e absorção do conteúdo, uma vez que o propósito do método Montessori é educar para a vida.

O raciocínio lógico-matemático

Outra questão é o raciocínio lógico-matemático, área cognitiva em que, como é frequentemente verificado no PISA, o Brasil enfrenta uma séria defasagem.

A dinâmica essencialmente teórica do ensino tradicional contribui para isso. Ela não ensina os estudantes a pensar por meio de desafios práticos, a raciocinar logicamente no intuito de resolver problemas do cotidiano, mas trata as operações matemáticas da mesma forma que aborda as outras matérias: por meio de decoreba, macetes e muita teoria.

O raciocínio lógico-matemático, contudo, se desenvolve justamente a partir do pensamento crítico e concreto, da experimentação, da dinâmica erro-acerto.

Para aprender a raciocinar logicamente, é preciso colocar a “mão na massa”, percebendo e trabalhando com os elementos constitutivos do mundo ao nosso redor, o que definitivamente não acontece no ensino tradicional.

Na metodologia montessoriana, a matemática é parte do cotidiano do aluno, é algo vivo, impossível de decorar, compreensível apenas por meio da interação e da experimentação.

E essa experimentação, vale dizer, parte do concreto para, somente mais tarde, englobar conceitos abstratos. Na educação infantil, os alunos manipulam materiais de diferentes cores, texturas e formatos, familiarizando-se com quantidade, peso, fração,  e noções e geometria.

Além disso, há colaboração entre crianças mais jovens e mais velhas, o que cria um sentimento de cooperação. Isso constitui uma base intelectual e afetiva sobre a qual o conhecimento matemático e científico será construído nos anos seguintes.

O perfil da educação montessoriana

Quando falamos da educação montessoriana como um todo, estamos, é claro, nos referindo aos professores, à organização das salas de aulas, e, sobretudo, à forma com que os conteúdos são trabalhados em uma escola Montessori.

A educação montessoriana parte sempre do concreto, daquilo que faz parte do cotidiano da criança, ensinando-a intuitivamente que todos os elementos são arranjados segundo uma ordem implícita, a qual deve ser respeitada. As prateleiras onde ficam os materiais didáticos, por exemplo, possuem uma organização particular, segundo a qual os recursos são ordenados do mais simples ao mais concreto, do mais baixo ao mais alto.

As crianças são orientadas a devolver os materiais ao local de origem ao final de suas atividades e a ajudarem umas às outras. Tudo no ambiente escolar a convida a viver a fala, o raciocínio, a percepção de espaço e a sociabilidade, e não somente a escutar passivamente e seguir instruções.

É justamente essa praticidade, essa vivência proporcionada pelo método Montessori que facilita a memorização e o raciocínio lógico-matemático.

Como você pôde constatar, o ensino tradicional, por ser essencialmente teórico, calcado em estímulos visuais e auditivos, falha em desenvolver a memorização verdadeira, e acaba promovendo uma decoreba generalizada.

A memorização, assim como o raciocínio lógico-matemeatico, emana do real aprendizado, da compreensão de um conceito a partir de uma experiência concreta e da associação de informações.

Podemos concluir, assim, que uma grande vantagem do método Montesssori está na diversidade de ferramentas que ela fornece ao aluno para que ele desenvolva intuitivamente essas capacidades cognitivas.

Este artigo foi esclarecedor para você? Que tal compartilhá-lo no Facebook e chamar seus familiares, amigos e conhecidos para o debate?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.