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Autonomia, segundo definiu o filósofo Immanuel Kant, é a capacidade que o ser humano tem de se governar conforme as próprias ideias e princípios. O contrário de autonomia é heteronomia, na qual o sujeito se submete à vontade de outras pessoas ou da coletividade que o cerca, conformando-se em reproduzir o status quo.
Mas por que o conceito de autonomia é tão importante para nós aqui na escola? Porque, como você verá, ele tem um enorme impacto no desenvolvimento cognitivo infantil.
Hoje, portanto, nossa proposta é falar sobre a autonomia da criança e sobre como estimulá-la desde cedo em seu filho.
Vamos refletir e aprender juntos!
1. Autonomia em Montessori
Como o método Montessori lida com a autonomia da criança?
Bem, se você conhece nossa metodologia ou nos acompanha aqui no blog, já deve saber que o método Montessori encoraja a autonomia e a proatividade infantil. Para Maria Montessori, todas as crianças nascem com o ímpeto de explorar, de descobrir e de aprender a partir das próprias experiências.
Os pequenos têm um professor interno, um guia, que a maioria dos adultos ignora ao declará-las incapaz disso ou daquilo e ao realizar atividades em seu lugar. Nesse contexto, cabe à escola dar as condições necessárias para que a criança desenvolva esse guia interior, descubra seu potencial e decole.
O aluno que trabalha com os encaixes cilíndricos na sala de aula, por exemplo, perceberá que algo não está certo ao tentar combinar cilindros e cavidades incompatíveis. Levando cinco, dez, quinze minutos ou quinze dias, ele vai, por seus próprios meios, compreender seu erro e evoluir a partir dele.
Tudo na escola Montessori foi pensado e planejado para dar à criança o espaço e o incentivo necessários para que ela desenvolva um pensamento independente e crítico, uma vontade de agir a partir de um direcionamento e disciplina internos. O material sensorial, a presença do adulto preparado e até a organização da sala de aula levam os alunos à autonomia.
2. Criança equilibrada e a resiliência a frustações
Para os pais, esse processo de aprendizagem e de ganho de autonomia representa um verdadeiro desafio. Um desafio talvez até maior do que para seus filhos!
Todos querem educar crianças independentes, capazes de resolver os próprios problemas, certo? Contudo, poucos proporcionam as condições adequadas para que os pequenos criem resiliência, para que aprendam a tomar decisões e a lidar as consequências de suas escolhas.
É aquela história do excesso de cuidado, que, com a intenção de ajudar, acaba prejudicando. Reflita: quantas vezes você já não fez algo no lugar de seu filho, ou interferiu em seu processo de aprendizagem apontando o erro ou corrigindo-o você mesmo?
Saiba que interferências dessa natureza acabam mandando mensagens erradas ao cérebro infantil. Livrando-o de todo o tipo de frustrações, você condiciona seu filho a esperar a ajuda dos outros para realizar cada movimento, cada escolha. Você o priva de aprender com seus erros, de ter iniciativas, de acreditar que é capaz de resolver problemas.
A autoconfiança não é gerada, e, consequentemente, nem a autonomia. E isso tem um impacto enorme em seu desenvolvimento, gerando sentimentos de inferioridade, impotência e acomodação.
Muitos estudos mostram que crianças autônomas têm um desenvolvimento acima da média emocional e intelectualmente. Não só sua resiliência é fortificada, mas também sua memória, criatividade, capacidade de planejamento e execução de tarefas.
Além disso, crianças que recebem incentivos dos pais para vencer barreiras em seu próprio ritmo, que se sentem respeitadas e estimuladas, têm sua autoestima elevada e desenvolvem um forte senso de identidade e autoconfiança. Elas passam a acreditar em si mesmas, tornando-se mais equilibradas e preparadas para a vida.
3. Autonomia, disciplina e obediência
Vamos deixar bem claro, contudo, que incentivar a autonomia não significa dar carta branca para que seu filho faça o que quiser na hora em que quiser. Liberdade sem disciplina é um grave equívoco cujos efeitos nefastos são sentidos até na fase adulta.
Incentivar a autonomia significa conscientizar a criança a respeito da vida, da rotina da casa, do cuidado com o corpo e com a mente, da relação com a natureza e com o mundo que nos cerca. Significa respeitar seu tempo de aprendizado e valorizá-la em suas iniciativas.
Com esse tipo de suporte, seu filho terá a vontade e a capacidade de tentar até acertar!
Acima de tudo, dar autonomia significa alimentar na criança o sentimento de que ela é capaz de resolver problemas e superar desafios, de que é digna de tomar decisões e lidar com as consequências de suas escolhas. É dar a ela confiança e amor para que ela então desenvolva esses atributos em relação a si mesma.
Ser autônomo, entenda, não significa ser desobediente ou indisciplinado, mas ter um senso de direcionamento interno e uma percepção de valor próprio.
4. Maneiras de encorajar a autonomia da criança
Há várias maneiras de encorajar a autonomia da criança já nos primeiros anos de vida, na fase da mente absorvente. Desde os dois anos, por exemplo, seu filho pode ser introduzido na rotina do lar, aprendendo a se alimentar, a sentar à mesa e a guardar seus brinquedos.
Com o tempo, pode ficar responsável por amarrar os próprios cadarços, escolher suas roupas, pentear os cabelos, escovar os dentes, manter o quarto em ordem, tomar banho e fazer sua higiene pessoal.
É claro que antes de convidá-lo a executar cada uma dessas funções, é preciso fornecer algumas instruções e direcionamentos simples. Mas não se espante se esse ímpeto brotar dele mesmo, pois é natural que as crianças imitem os adultos em suas atividades e movimentos.
Ao começar a se vestir, por exemplo, ele não precisa escolher a partir de todas as peças que estão em seu guarda-roupas. No início, dê a ele duas ou três opções de vestimentas, limite seu escopo para que ele não se sinta perdido. À medida que ele se acostumar com a tarefa, no entanto, dê a ele mais autonomia.
Estamos chegando ao final de mais um momento de aprendizado. Hoje, focamos nossa atenção na autonomia da criança e nos benefícios que estimular essa autonomia traz para o desenvolvimento cognitivo infantil.
Como você pôde ver, autonomia não significa desobediência ou indisciplina. Pelo contrário, denota uma conscientização por parte da criança em relação a si mesma e ao mundo que a rodeia. Uma criança que é incentivada em suas iniciativas, cujas tentativas são valorizadas, é uma criança equilibrada emocional e cognitivamente.
Para alcançar esse resultado, é preciso deixar seu filho fazer escolhas e respeitá-lo em seu tempo de aprendizado, evitando resolver problemas e responder perguntas por ele, e principalmente, evitar poupá-lo da consequência de suas escolhas.
Em dúvida sobre algum aspecto da metodologia Montessori? Agende uma visita a nossa escola e estabeleça um contato direto com os educadores preparados.