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Tão logo um ano termina, a temporada de reserva de vagas e matrículas para o próximo período começa.
Antes de escolher onde matricular seu filho, contudo, é essencial conhecer a linha pedagógica seguida pela escola, entender as diferenças entre as metodologias e identificar a que for mais alinhada às expectativas de sua família.
Tenha em mente que tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Básico há diferentes maneiras de abordar conteúdos e construir conhecimentos. Assim, compilamos aqui as quatro principais linhas pedagógicas presentes nas escolas brasileiras.
Leia, informe-se e faça uma escolha consciente!
Pedagogia tradicional
É a linha pedagógica presente na maioria das escolas brasileiras, tanto públicas quanto privadas. Trata-se do modelo difundido a partir do movimento iluminista e da Revolução Francesa, ambos no século 18, cujo objetivo era universalizar o acesso à educação e padronizar os assuntos estudados.
O ensino é focado na absorção de conhecimento pelos alunos, o que acaba por valorizar a capacidade de memorização. É o modelo segundo o qual a maioria dos profissionais atuantes hoje foi educada, e seu principal foco é preparar para os exames de final de ano, especialmente o vestibular.
O aprendizado é centrado no professor, transmissor do conhecimento. O aluno tem metas a cumprir, que são verificadas por meio de avaliações. Se não atingir a nota mínima necessária ao longo do ano, é reprovado. O material didático de uso comum são apostilas e cartilhas, que estabelecem o que o aluno deve aprender.
Vale destacar: diferentemente das três pedagogias listadas a seguir, na educação tradicional a aprendizagem do aluno é passiva.
Metodologia montessoriana
A linha pedagógica montessoriana, da qual falamos aqui no blog, foi criada pela médica e educadora Maria Montessori, na Itália, no início do século 20. Diferente da metodologia tradicional, ela não é focada na absorção de um conhecimento pronto, e sim em sua construção pelos próprios estudantes.
Essa metodologia parte de dois principais preceitos: a autoeducação e a autonomia.O professor é um guia que isola as dificuldades da criança e respeita seu ritmo e individualidade, fazendo apenas intervenções devidamente pedagógicas.
Para chegar até eles, as escolas seguem os direcionamentos deixados por Montessori, valorizando o aprendizado integral (e não somente a memorização!) por meio de atividades manuais e da utilização de materiais multissensoriais que estimulam os alunos, em um ambiente completamente preparado para a aplicação da metodologia.
Uma característica marcante é a disposição do mobiliário na sala de aula, com prateleiras e materiais acessíveis às crianças. Na escola Montessori, existe processo avaliativo diferenciado, no ensino fundamental pode haver ou não provas, de acordo com o regimento da escola e quando não há, a avaliação é feita de registros das produções diárias dos alunos.
Já na pré-escola, os alunos são encorajados a escolher os projetos e recursos com os quais desejem se engajar, sendo auxiliados pelos professores. O objetivo é formar indivíduos criativos, proativos e seguros, que façam a diferença no mundo e não apenas sigam tendências.
Os alunos egressos desta metodologia têm mais facilidade em exames como o Enem, que demandam o emprego de uma série de competências além da memorização, como estabelecer conexões entre as disciplinas e compreender os assuntos de maneira ampla.
Metodologia Waldorf
Assim como a metodologia montessoriana, a metodologia Waldorf foi desenvolvida na Europa do século 20, sendo baseada na filosofia do austríaco Rudolf Steiner. Ela parte do princípio de que cada ser humano é único, e, portanto, seu processo de aprendizagem também o será.
Essa metodologia busca e prega um desenvolvimento holístico, abordando aspectos físicos, artísticos e intelectuais dos estudantes, o que a torna oposta à abordagem tradicional e padronizada do ensino. Nela, há uma divisão por faixa etária e não exatamente por ano, ou série.
Avaliações são aplicadas em algumas ocasiões, especialmente no Ensino Fundamental e Médio, mas muitos aspectos influenciam na nota, como comportamento em relação às tarefas solicitadas e dificuldade do estudante com o assunto. Não há repetência, já que as formações ética, estética e artística, assim como o equilíbrio emocional, são tão valorizadas quanto os parâmetros acadêmicos.
Pedagogia construtivista
O psicólogo suíço Jean Piaget ficou famoso mundialmente por estudar os processos cognitivos infantis e os mecanismos que levam à aprendizagem. A partir de seus estudos, surgiu a escola construtivista — que também teve considerável influência do educador russo Lev Vygotsky e da psicóloga argentina Emilia Ferreiro.
Essa linha pedagógica também defende que o conhecimento é construído pela criança e não “decorado” a partir das palavras do professor. Nela, os alunos estudam em ambientes estimulantes, envolvendo-se em atividades sociais e interativas e na formulação de hipóteses a fim de desenvolver sua própria linha de raciocínio.
Os estudantes são avaliados de forma contínua e, por esse motivo, evita-se a aplicação de provas pontuais. No entanto, como o sistema de ensino brasileiro parte dos princípios da pedagogia tradicional, as escolas construtivistas, assim como as montessorianas e Waldorf precisam se adaptar e construir avaliações que estejam em consonância com seus valores e práticas.
As salas de aula contam com pouquíssimos alunos, permitindo que os professores acompanhem cada um deles. Aqui, o foco é educar jovens críticos e inovadores, que não apenas sigam, mas que pensem e ajam por si próprios.
Por que é importante conhecer as linhas pedagógicas
A educação, assim como o desenvolvimento humano, é um fenômeno complexo e multifacetado. Há inúmeras propostas pedagógicas em voga atualmente, mas gostaríamos de destacar que não existe “a” melhor ou “a” pior, e sim a mais adequada às suas expectativas e valores familiares.
Enquanto umas favorecem um tipo de desenvolvimento específico, enfatizando uma habilidade em detrimento das demais, outras buscam oferecer uma educação mais holística e integrada. Aqui, você deve se perguntar:
- Qual é a mais adequada para meu filho?
- Qual fornecerá os melhores instrumentos para que ele conquiste seus objetivos?
- Qual delas está mais alinhada à minha visão de mundo?
Talvez você tenha planos de morar em outro país e, portanto, uma educação bilíngue desde cedo será sua melhor opção. Talvez você preze pela autonomia e pelo equilíbrio emocional de seu filho, pelo aprendizado com as mãos e pela interação com a natureza, o que o levará até a metodologia montessoriana.
Ou talvez você deseje que ele decore teorias bem o suficiente para passar bem colocado no vestibular, optando pelo ensino tradicional. Pode ser ainda que você valorize a formação artística acima de tudo, vendo na Waldorf a proposta ideal.
Lembre-se: tudo mudará de acordo com sua perspectiva e expectativas!
O processo de escolha consciente
Além de conhecer as diferentes vertentes pedagógicas, é fundamental que você converse com quem já testou a metodologia da escola que mais despertou seu interesse. Converse com pais, alunos ou ex-alunos para um feedback mais personalizado a respeito de como o ensino ocorre no dia a dia.
Ainda em dúvida sobre qual linha pedagógica escolher? Aproveite e confira nossa matéria sobre neurociência e Montessori, que mostra como as descobertas recentes apoiam essa metodologia.