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Uma das centenas (senão milhares!) de dúvidas compartilhadas por papais e mamães é o momento certo de interferir nas atividades da criança e até que ponto fazê-lo. É certo que uma vida nova na família desperta no adulto a vontade de fazer o melhor, de contribuir em cada passo de sua jornada.
Contudo, é importante ter em mente que nem tudo o que julgamos como “melhor” é, de fato, o mais adequado para o desenvolvimento cognitivo dos pequenos. É aí que entra a questão das atividades e brincadeiras.
Será que é positivo deixar a criança brincar sozinha? Ou será que é essencial direcionar suas preferências e ações, estando presente e atuante? É o que você vai descobrir no artigo de hoje. Vamos lá!
O tabu do erro
Se você é pai ou mãe já deve ter percebido que há uma tendência dos mais velhos e da sociedade em geral de criticar as iniciativas dos progenitores em relação ao tratamento dos filhos, especialmente aqueles de primeira viagem. “Não faça isso!”, “Você deve fazer assim”.
Chamamos isso de “o tabu do erro”, e sabemos que há pessoas que fazem disso um esporte. Não queremos aqui corroborar com essa tradição e julgar sua conduta. Pelo contrário, compreendemos o desafio que é criar um filho nos dias atuais e desejamos apenas incentivar a reflexão crítica e abrir seu leque de opções em relação às brincadeiras e atividades típicas da infância.
Esclarecido esse ponto, podemos prosseguir.
Os dois lados da moeda
Há milhões de pais e mães espalhados pelo Brasil, mas podemos agrupá-los em duas abordagens bem distintas no que se refere a interferir nas atividades da criança.
Existe uma vertente de pais e mães ocupados que convertem as horas ou minutos que têm com seus filhos em uma extensão de seu trabalho. Eles respondem mensagens, checam e-mails e navegam na internet enquanto os filhos brincam ao seu lado, não prestando atenção ao que está acontecendo.
Estamos falando, perceba, de uma abordagem absenteísta. Aqui, não há brincadeira e interação propriamente ditos, e sim uma política de “corpo presente, mente distante”.
Lembrando, sem julgamento: todos fazemos isso uma hora ou outra.
Já o outro lado da moeda ocorre quando o pai ansioso ou mãe ansiosa estão atentos a cada movimento da criança e interferem a todo momento, corrigindo seu jeito de brincar, de interagir com os materiais e com o próprio corpo. Quem já não ouviu ou disse: “Essa bola é pra jogar e não para colocar na boca”, “Essa pecinha vai aqui, ó filho!”, “Deixa que a mãe mostra como encaixa”.
Percebeu a diferença entre as duas tendências, né?
O momento certo de interferir nas atividades da criança
É certo que nos primeiros anos de vida, seu filho vai querer sua atenção e presença constante. Afinal, é isso que vai lhe transmitir segurança para que ele aprenda a brincar sozinho e a tomar as próprias iniciativas.
Por isso, é importante que você reserve diariamente um tempo para de fato brincar com ele, e não apenas para estar presente. Supra suas necessidades emocionais para que ele possa ir aos poucos caminhando com os próprios pés.
Quando for interagir, largue tudo o que estiver fazendo e se dedique de verdade a ter um quality time e a criar um vínculo de confiança com seu pequeno. No entanto, não boicote as iniciativas dele e nem direcione sua atenção.
Se ele passar uma, duas horas tentando encaixar uma pecinha triangular no buraco redondo, respeite seu ritmo, suas tentativas e o encoraje, porém sem interromper seu processo cognitivo de descoberta. Mostre que você confia nele e permita que ele se concentre e termine uma atividade de cada vez, sem ficar chamando sua atenção para outros brinquedos a todo momento.
Aos poucos, vá dando mais espaço e oportunidades para ele brincar sozinho, ainda que por pouco tempo. Diga que precisa buscar algo e que volta logo e comece a aumentar a frequência e a duração dessas ausências. No entanto, sempre retorne conforme prometido. Com o tempo, você pode começar a realizar as próprias atividades no mesmo espaço, como ler, por exemplo, enquanto ele brinca.
Grave bem: é importante que o tempo que vocês passam juntos seja divertido e prazeroso para ambos!
O presente da autonomia
O método Montessori destaca a todo momento a importância de dar autonomia aos pequenos. Nas salas de aula aqui da escola, por exemplo, os professores raramente interferem nas atividades dos alunos – e é assim em todo lugar que segue essa metodologia.
Isso porque estimular a autonomia desde cedo, para Maria Montessori, era a chave para o desenvolvimento de uma criança equilibrada, responsável e proativa. No entanto, é fundamental saber gerar essa autonomia da maneira certa.
Deixar seu filho sempre sozinho e permitir que ele passe horas e horas em frente às telas da vida contemporânea (seja de tevê, seja de tablete ou smartphone) não é dar autonomia, pelo menos não de um jeito construtivo.
Sabemos que programas de tevê e jogos no celular engajam rapidamente a atenção dos pequenos e que podem ser a salvação para momentos multitarefas, comuns a todos os pais e mães que desempenham várias funções ao mesmo tempo. Porém, recomendamos que isso não se torne rotina, pois a passividade que a televisão induz certamente leva à alienação e a um sentimento de acomodação.
Também evite rodear seu bebê com inúmeros brinquedos. O tempo da brincadeira é uma ótima oportunidade de ele desenvolver sua capacidade de concentração, então, quando ele ainda não puder escolher sozinho, ofereça seu preferido e observe todas as maneiras que ele encontra de explorar o material sem julgamentos e correções.
As experiências do mundo real
Como mencionamos no início desse texto, nosso objetivo aqui não é direcionar seu comportamento como mãe ou pai, ou julgar sua abordagem. Nenhuma criança vem com manual de instrução, e cada família funciona de um jeito único.
No entanto, vale frisar que as experiências do mundo real trazem mais benefícios do que qualquer programa de tevê, e por isso devem ser estimuladas. Brincadeiras com massinha, peças e montagem, tintas e texturas vão auxiliar seu filho a descobrir o mundo de uma forma mais engajada e ativa.
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