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Aqui no blog, já falamos sobre o espaço da sala de aula, sobre o adulto preparado e sobre os materiais sensoriais. Hoje, vamos abordar um assunto que anda de mãos dadas com esses conceitos, dando-lhes viabilidade e propósito: o controle do erro. Já ouviu falar?
O controle do erro é um importante pilar da metodologia criada pela Dr. Maria Montessori, pois permite que a autoeducação se concretize.
Interessado em compreender a teoria por trás do controle do erro? Então acompanhe com atenção!
O conceito de autoeducação
Primeiro, vamos relembrar o conceito de autoeducação.
A autoeducação permeia a prática diária de qualquer escola que siga a metodologia montessoriana. Isso porque, para Maria Montessori, no espaço e tempo devidos, com o acompanhamento de um adulto preparado e estando em contato com os materiais adequados, a criança se educa sem interferência externa.
Nessa configuração, todos os materiais com os quais o aluno lida evidenciam os erros cometidos, sinalizando que algo precisa ser modificado para que a atividade tenha um fim. Tudo vai no caminho da autocorreção, inclusive o ambiente, organizado com esse objetivo.
E quanto ao papel do professor? Bem, ao professor cabe observar e garantir que esse processo ocorra de forma intuitiva, sem, contudo, interferir diretamente. A ele não cabe corrigir o aluno, mas garantir que o aluno embarque na jornada da autoeducação e do autodesenvolvimento sem obstáculos.
A proposta dos materiais montessorianos
Também não podemos falar de autoeducação sem abordar a proposta dos materiais sensoriais idealizados pela própria Maria Montessori. Afinal de contas, eles são os grandes viabilizadores da aprendizagem infantil.
Perceba que os materiais montessorianos, ou materiais sensoriais, não são brinquedos, mas instrumentos didáticos projetados para propiciar a compreensão da linguagem, da matemática e de outras áreas do conhecimento humano. Todos eles trazem o fator autocorretivo embutido, a partir do qual o controle do erro se torna possível para a criança.
Dessa forma, o professor não precisa apontar o que está errado e interromper o processo de aprendizagem. O aluno chega a essa conclusão via tentativa e erro.
Imagine a seguinte situação: Pedro está manipulando os Encaixes Sólidos, uma série de cilindros com diferentes espessuras que se encaixam em uma peça única de madeira. Ele, de repente, insere uma peça no local indevido. A partir daí, toda a atividade será prejudicada e ele não poderá terminá-la até se dar conta do erro e corrigi-lo.
Essa dinâmica, que é repetida na escola Montessori dia após dia, permite que os alunos evoluam seu raciocínio e se adaptem a novas situações, procurando isolar o erro e superá-lo a fim de seguir em frente.
A resiliência a frustrações
Uma das lições mais valiosas ensinadas pelo controle do erro é a resiliência a frustrações. Hoje, é comum que as crianças, por crescerem em um mundo altamente tecnológico e conectado, aprendam a esperar soluções instantâneas aos desafios que encontram no cotidiano. Como consequência, apresentam uma baixa resiliência à frustração.
Porém, nós adultos sabemos que a frustração é parte natural da vida de um ser humano, e saber superá-la é uma das habilidades essenciais para ser bem-sucedido no mundo moderno. Na sala de aula, com os materiais sensoriais e as atividades de vida prática, o aluno pode vivenciar esse sentimento em um ambiente preparado.
Transpor a barreira da frustração — não necessariamente evitando-a, mas sabendo lidar com ela sem paralisar, desistir ou ter acessos de raiva — é uma grande contribuição do controle do erro para a maturação infantil.
O controle do erro no trabalho e no comportamento
É válido, no entanto, fazer uma distinção. Quando falamos que o professor não interfere diretamente na espiral de aprendizagem dos alunos, uma vez que os materiais e até o ambiente são autocorretivos, estamos falando do controle do erro no trabalho.
Na execução dos exercícios, no manuseio dos materiais e nas atividades de vida prática, realmente o objetivo é que o aluno se autoeduque e que conquiste sua autonomia, sem precisar do suporte de um adulto o tempo todo.
Contudo, quando há um transtorno de comportamento, quando o aluno agride os colegas, faz birra, quebra material, espalha peças de propósito e age de forma a colocar a si mesmo ou aos outros em risco, o professor interfere sim e com assertividade.
É preciso fazer essa distinção, pois muitos pais, ao lerem sobre autoeducação, pensam que o professor é um observador em qualquer situação. Isso, como você pôde comprovar aqui, é verdadeiro em relação à aprendizagem, mas não em relação aos erros de comportamento.
Quando situações como essas acontecem, o professor intervém até que a criança recupere seu equilíbrio. Se isso acontece por frustração com o erro ou pela incapacidade de levar adiante uma tarefa, o aluno é encaminhado a um desafio mais simples, geralmente já dominado por ele e de sua preferência, a fim de se acalmar.
Maria Montessori falava muito em darmos independência e autonomia às crianças, mas assegurava que ambas devem ter como base a responsabilidade consigo mesmo, com o mundo e com os outros.
A evolução do controle do erro
Talvez você ainda não saiba, mas o controle do erro evolui à medida que os materiais vão ficando mais complexos e abstratos. No início, os erros ficam absolutamente evidentes, impedindo a completude das tarefas. Os materiais são feitos de forma exata e precisa, sendo que ou o aluno acerta ou erra.
Essa lógica, porém, torna-se mais sutil ao longo dos anos, para que as crianças adequem seu senso crítico, agucem sua percepção e treinem sua capacidade de isolamento de erro mesmo quando ele não é óbvio.
O controle do erro na metodologia montessoriana, portanto, concretiza-se por meio dos materiais sensoriais, do ambiente e do adulto preparado. Essa dinâmica potencializa a aprendizagem infantil e torna possível a autoeducação tal qual defendida por Maria Montessori.
Assim, o caminho até o objetivo da educação montessoriana, que é uma criança plena e equilibrada, é pavimentado pelo erro e pelo aspecto autocorretivo das atividades.
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